quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pescadores artesanais e peixes ameaçados

Pesca de arrasto ou amarrador
Não há quem não inveje a tranquilidade de uma colônia de pesca, sua localização privilegiada as margens do mar ou de um rio, um paraíso longe da turbulência da cidade grande. Mas em nossa região a realidade é outra. O contato direto com a natureza é quase sempre extenuante. A tranqüilidade é apenas aparente e, de perto, mal dá para esconder a vida dura, incerta e perigosa dos pescadores artesanais. Assolados pela situação econômica do País, pela destruição das margens e, principalmente, pela pesca predatória, que tem levado espécies de peixes a extinção, esses pescadores estão à beira do desaparecimento.

A pesca artesanal caracterizada, fundamentalmente, por usar redes adequadas para cada espécie, sempre respeitando a época do defeso, garantindo a sobrevivência dos pescadores e das espécies marinhas, hoje assume um caráter penoso com uma rotina exaustiva e arriscada. Antes mesmo do nascer do sol, muitos já precisam pegar suas canoas para saírem à pesca. Mas a hora de voltar é uma incógnita a cada dia. Enquanto os de maior poder utilizam grandes arrastos, os pescadores artesanais seguem a sua intuição e a experiência de uma vida para localizar o cardume, para então jogar a rede. As malhas sempre respeitam as medidas, de forma a só pegar peixes adultos, ao contrário da rede de malha fina, usados pela pesca de arrasto. Ao chegar ao local escolhido, começa a cansativa tarefa de armar a rede. Depois de estendida a rede, o barco dá uma volta e o pescador voltava para sua casa. Essa rotina é feita quase que constantemente, durante todo o dia e há vezes em que um dia de trabalho não produz nada ou o produto diário nem sempre é suficiente para pagar sequer o óleo ou gasolina gasto.Sobrevivência é hoje a palavra de ordem em todas as comunidades de pescadores. Se a pesca não está dando para sustentar a família, o jeito é virar caseiro de veranista, ir para a cidade, empregar-se nas Prefeituras como garis ou, pior ainda, engrossar o número cada vez maior de desempregados.

Os pescadores, em um dia de trabalho podia render centenas de quilos, tudo isso sem precisar ir muito longe, ali mesmo próximo as suas moradias. Agora eles precisam ir muito mais distantes e nem assim conseguem metade disso numa semana inteira. A culpa atesta os pescadores artesanais, é da pesca predatória (arrasto/caceia), da poluição dos rios, da destruição das margens e, principalmente, da falta de uma política e gestão por parte das autoridades do setor.

A vida na comunidade, devido às dificuldades e ao tempo gasto no rio, já não é a mesma. Ao chegar, cada pescador vai para a sua própria casa. Ninguém pensa em se reunir na praia para conversar. Nem mesmo aos sábados há descanso: é dia de ir à peixaria receber o dinheiro dos peixes e saldar as dívidas, tarefa que, às vezes, dura um dia inteiro. O sr. Raimundo ou primo, de 65 anos, pescador desde os oito, lembra da época em que os pescadores saíam de manhã e voltavam sempre de barco cheio, mas reservando os finais de semana para o lazer e a família. Hoje trabalham todos os dias sem hora para sair ou chegar e não são raras às vezes em que chegam de mãos vazias. Ele vê com tristeza que a pesca predatória está levando muitos pescadores a venderem seu material e partirem para a vida na cidade, aventurando-se numa realidade desconhecida para eles. “Pelo menos na comunidade todos se ajudam, fome mesmo ninguém passa”, afirma Amilton, pescador da praia do meio município de nova Ipixuna Pará.

A pesca de arrasto se moderniza e avança pelos rios da Amazônia. É frequente a ocorrência de barcos arrastando até 1500 metros de rede com malhas, geralmente, inferior ao permitido, num método conhecido como caceia. Outro método que, embora ainda conserve os traços da pesca artesanal, mas que consegue uma produção de pescado do gabarito da pesca industrial, com a captura de toneladas de peixes em um único dia, é a pesca de arrasto. Graças a uma técnica ainda artesanal de observação chamada trepeiro os pescadores dispensam o sonar e localizam os cardumes entrando em ação o famoso e destruidor arrastão. O observador visualiza o cardume e passa a mensagem através de grito, dispensando também o uso do radio comunicador. Em questão de minutos, o grupo que está na margem do rio fecha o cardume e a frágil canoa artesanal se transforma em uma armadilha conduzindo a ponta da rede até as margens não dando chance alguma para os peixes que são arrastados para as margens por redes de tamanhos diversos. Em suas andanças pelas margens do glorioso rio Tocantins a equipe do MEPA\UFPA, tem percebido as dificuldades enfrentadas pelos pescadores artesanais dessa região. Muitas espécies já desapareceram e outras estão em fase de desaparecimento.

A ONG, mais uma vez, pôde constatar isso claramente, quando acompanhou o pesquisador Doutor Emio/UFOPA por aproximadamente uma semana na procura pela espécie sarda ou apapá (Pellona spp). O biólogo desenvolvia um trabalho de levantamento da variabilidade genética da referida espécie nessa região e necessitava da captura de pelo menos 20 exemplares. Contudo, após 05 dias de idas e vindas ao trecho do rio que abrange os municípios de Marabá, Itupiranga e Nova Ipixuna, lançando rede e visitando os pescadores da região, conseguiu penas 04 exemplares da espécie.

Peixe abandonado
Os relatos dos próprios pescadores apontam para um tempo em que esta espécie ocorria fartamente, sendo capturadas centenas de quilogramas, que eram deixados nas margens do rio por não ser comercializável. o mesmo esta se  repetindo hoje com outras espécies. É o caso, por exemplo, do cuiucuiu, da arraia etc. que podem ser vistos mortos as margens do rio. Esta semana, a ONG encontrou um boto em processo de putrefação descendo o leito do rio.

Agrônomo da UFPA, retira o animal da água

A causa da morte do referido animal não pôde ser determinada, embora se levantou duas especulações, todas atribuindo a responsabilidade aos pescadores: a primeira atribuía a morte do animal a tiros disparados por pescadores devido a sinais, semelhantes a marca de chumbo,visualizados no corpo do animal; a segunda atribuía a causa da morte a ingestão de rede de pesca que podia ser observada na garganta do animal. Sendo uma destas duas a causa da morte ou mesmo uma terceira ainda desconhecida, o fato é que o referido animal, inimigo dos pescadores por retirar os peixes das redes destes, às vezes destruindo-as, foi morto e por não fazer parte da alimentação dos pescadores foi deixado no rio, repetindo-se ou continuando um processo de captura e/ou morte de animais “justificado” apenas no fato deste animal existir.

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