sábado, 20 de agosto de 2011

ICMBio lança plano para salvar da extinção sauim-de-coleira, primata que só vive em Manaus


O drástico declínio da população do primata sauim-de-coleira (Saguinus bicolor) nos últimos 20 anos e a perspectiva da espécie desaparecer por completo em 50 anos deu o sinal de alerta e provocou a elaboração de um plano nacional para salvar o primata da extinção.
Também conhecido como sauim-de-Manaus, o sauim-de-coleira é um primata de pequeno porte (chega até 32 cm, além da cauda de até 42cm e pesam cerca de 550 g quando adultos) que vive exclusivamente na região de Manaus e em algumas áreas de vegetação da zona rural.  Há também uma população de quantidade ainda pouco conhecida nos municípios de Itacoatiara e Rio Preto da Eva, na Região Metropolitana da capital.
Algumas das ações propõem a criação de unidades de conservação para receber os primatas que se encontram na zona urbana de Manaus e promover a sua conectividade; manter a conservação de fragmentos de vegetação onde a população está conseguindo sobreviver e articular junto aos grandes proprietários de terras a manutenção em longo prazo dos remanescentes florestais contidos em suas propriedades.
São animais de cerca de 500 g quando adultos, de coloração branca, marrom e pele negra.  São arborícolas, vivendo em grupos que pode ultrapassar 15 indivíduos.  Se alimentas de frutos, sementes, folhas e pequenos vertebrados e insetos.
Restrição
A demanda é do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e envolve a atuação de várias instituições, como Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O Plano de Ação Nacional para a Conservação do Sauim-de-Coleira começou a ser elaborado em maio deste ano e agora entra na fase da implementação.  Esta fase, contudo, ainda depende de mais parcerias, especialmente no que se refere a fontes de financiamento.
Leandro Jerusalinsky, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas brasileiros do ICMBio, disse ao portal critica.com que o plano adotado para o sauim-de-coleira integra uma política de conservação da biodiversidade lançada em 2009 destinada a espécies ameaçadas de extinção.
Segundo Jerusalinsky , em 2011, o ICMBio lançou um grande pacto entre as instituições para viabilizar o pano entre o sauim-de-coleira.
“Esta espécie tem uma situação peculiar porque está distribuída em uma região extremamente restrita e sofre um impacto urbano muito grande.  Fizemos um plano para ser realizado em cinco anos que garanta que 500 indivíduos ocupem uma extensão de 10 mil hectares”, disse Jerusalinsky.
Desmatamento
O receio tanto dos pesquisadores quanto dos gestores públicos é com o crescimento da expansão urbana de Manaus e a crescente perda de floresta na zona urbana da capital amazonense.
Outras ameaças são agressões sofridas por moradores do entorno dos fragmentos de floresta e os predadores, especialmente animais domésticos.
O Plano de Ação Nacional já foi finalizado mas ainda está para ser publicado no Diário Oficial da União.  No entanto, segundo Jerusalinsky, algumas ações já estão em curso, como a realização de diagnósticos e levantamentos de indivíduos e complicação de dados.
O analista ambiental Diogo Lagroteria Faria destaca que o plano envolve sete metas e dezenas de ações cujo objetivo é garantir a sobrevivência da espécie.
“Uma dessas metas é criar ou ampliar unidades de conservação em áreas onde já existem o sauim e ver como se pode realizar a distribuição deles lá.  A outra meta é aumentar a conectividade entre os fragmentos, como a que ocorre na Reserva Florestal Adolpho Ducke e a área do Cigs para que será possível a troca genética”, explicou Faria.
A ação não deve se limitar às instituições de pesquisa, ongs e ICMBio, segundo Faria.  É intenção apresentar o plano à prefeitura de Manaus para que as ações façam parte da elaboração do Plano Diretor da cidade.
“O sauim-de-coleira é uma das espécies de primatas mais ameaçada de extinção do mundo.  Eles têm papel importante na ecologia e no equilíbrio do meio ambiente, sendo grandes dispersores de espécies vegetais, além de serem parte importante da cadeia alimentar.  Muitos turistas vem até manaus para conhecer essa e outras espécies de nossa tão rica biodiversidade”, diz Faria.
Crítica
O alerta para o extremo risco de extinção do sauim-de-coleira em 50 anos é do biólogo Marcelo Gordo, que há dez anos coordena um projeto dedicado à espécie pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).  Gordo também faz parte do Plano de Ação Nacional do ICMBio.
Segundo Gordo, a implementação do plano não impedirá que a situação continue crítica para a espécie.
“Mesmo sem ninguém matar e desmatar mais nada a espécie correrá risco.  Pode ser vítima de doenças, ser atropelado.  O plano de ação vai tentar amenizar a situação e prolongar a vida dentro da cidade”, observou.
Conforme o biólogo, a espécie distribui-se em uma área muito limitada.  Ela concentra-se na zona urbana de Manaus e na área florestal onde funcionamento os treinamentos do Exército, à margem do rio Solimões, e na região do Parque Estadual do Rio Negro, à margem do rio Cuieiras, afluente do rio Negro.
Na zona urbana de Manaus, a população maior está na Reserva Florestal Adolpho Ducke e na floresta da Ufam, onde estima-se que há aproximadamente 150 indivíduos.  Na floresta da sede do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) há apenas cinco.
As áreas onde mais houve perda dos indivíduos são bairros como Parque 10, Parque das Laranjeiras e quase toda a totalidade dos bairros da zona Norte, onde o desmatamento total para a construção de unidades habitacionais acabou com o habitat natural da espécie.
Uma área verde “condenada” é a localizada entre o Aeroporto Eduardo Gomes e a Ponta Negra.  “Tudo aquilo é condomínio.  Nos próximos dez anos, vão sobrar apenas 10% da vegetação.  Acaba floresta e macaco vai junto”, salientou Gordo.
Para ele, a ação mais urgente que precisa ser implementada é a criação de unidades de conservação com tamanho superior à Reserva Ducke.  Mas estas, segundo ele, só podem ser criadas em Itacoatiara e Rio Preto da Eva.
Competição
O sauim-de-coleira faz parte da família Callitrichidae, que compreende micos, sagüis e sauins).  Segundo informações do ICMBio, além de ser ameaçado pelo homem, o sauim-de-coleira também sofre ameaças do sauim-de-mãos-douradas (Saguinus midas), um outro calitriquídeo presente nas áreas de entorno da cidade de Manaus.
Nesta possível relação de exclusão competitiva, o sauim-de-coleira estaria perdendo áreas de florestas para o sauim-de-mãos-douradas e sendo “empurrado” gradualmente em direção às florestas secundárias da área urbana de Manaus.
Por causa da competição entre as duas espécies, o sauim-de-coleira está cada vez mais confinado à cidade, aumentando assim a responsabilidade dos habitantes da cidade quanto à sobrevivência da espécie.

Fonte: A Crítica

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