segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Veneno de Jararaca poderá ajudar no tratamento de Parkson e Trombose

Dois grupos brasileiros isolaram moléculas do veneno da serpente e descobriram aplicações para combater doenças neurodegenerativas e ligadas à coagulação do sangue

A picada de uma serpente pode ser fatal. No caso da jararaca, uma das cobras mais venenosas da fauna brasileira, as toxinas podem causar paralisia, hemorragia e falência dos rins. Porém, dois grupos de pesquisa brasileiros — um da Universidade de São Paulo (USP) e outro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) — estão ajudando a amenizar a má fama do bicho. Eles descobriram que substâncias presentes no veneno da jararaca (veja glossário) podem ajudar no tratamento de doenças, como o Parkinson e a trombose. As descobertas foram apresentadas na FeSBE 2011 (reunião anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental), que acontece no Rio de Janeiro entre os dias 24 e 27 de agosto.

O primeiro trabalho, chefiado pelo biólogo alemão Henning Ulrich, da Universidade de São Paulo, mostra que uma molécula presente no veneno da jararaca, a bradicinina, pode ajudar a estimular a formação de células nervosas no cérebro. Isso quer dizer que doenças degenerativas, como o Parkinson, têm chances de serem tratadas com a substância. O outro estudo, coordenado pela professora Lina Zingali, da UFRJ, descobriu que duas substâncias isoladas do veneno da jararaca podem ajudar no tratamento de doenças ligadas à coagulação do sangue, como a trombose.

Doenças degenerativas — Em 1949, o cientista brasileiro Rocha e Silva isolou uma molécula de altíssima concentração no veneno da jararaca, a bradicinina, e descobriu que ela ajudava a reduzir a pressão arterial. A descoberta brasileira serviu de base para o desenvolvimento do medicamento Captopril, que combate a hipertensão. A bradicinina é uma substância também presente no organismo humano, mas em pequena concentração.

O estudo das funções da bradicinina sobre a formação de neurônios começou em 2001, quando Ulrich foi contratado como docente da USP. A partir daí, a cientista Telma Schwindt, os doutorandos Cleber Trujillo e Henrique Martins e Ulrich perceberam que a bradicinina era capaz de ativar células-tronco presentes no cérebro. "Essas células amadurecem e formam novas ligações nervosas quando há algum dano neural", disse o biólogo alemão, em bom português.

Isso quer dizer que a degeneração de células nervosas causada por doenças como o Parkinson, e por derrames, explica Ulrich, pode ser combatida com a molécula do veneno da jararaca. A equipe de Ulrich percebeu também que, em ratos que sofreram um derrame, a bradicinina ajuda a impedir a morte das células saudáveis.
O tratamento em humanos, contudo, ainda está longe. Ulrich explicou que a pesquisa precisa migrar dos modelos animais para os humanos, e um tratamento pode demorar até 10 anos para virar realidade.
Descoagulante — Outra pesquisa, coordenada pela professora Lina Zingali do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ, isolou duas moléculas do veneno da jararaca, chamadas jarastatina e jararacina. Essas substâncias fazem parte de um grupo de moléculas chamado desintegrina, capazes de prevenir a coagulação do sangue. Os pesquisadores queriam encontrar químicos que não causassem tantos efeitos colaterais quanto os atuais remédios que combatem as doenças ligadas à coagulação sanguínea, como a trombose.
As duas moléculas isoladas pelo grupo da UFRJ foram capazes de inibir o acúmulo de plaquetas em amostras de sangue humano. Quanto maior a dose de jarastatina e jararacina, maior a descoagulação sanguínea. Das duas, a jararacina é a mais potente.

A utilização das moléculas do veneno da jararaca em remédios para seres humanos ainda pode demorar. Os resultados da pesquisa mostram que, no laboratório, as substâncias podem ajudar pessoas com trombose, mas é preciso realizar testes em animais. Em seguida, seriam feitos os testes com humanos.

A equipe precisa saber qual dose pode ser tolerada pelo organismo das pessoas e se haverá efeitos colaterais. Os resultados foram publicados no periódico Archives of Biochermistry and Biophysics.

*Fonte:  Folha do Pará

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